Em 7 de setembro de 1922 nas comemorações do Centenário da Independência do Brasil, o periódico “A VOZ DO MAR” exaltava aquele acontecimento, assim narrando-o:
“O maior acontecimento o seculo, para a nossa nacionalidade, foi a passagem, a 7 de setembro, do primeiro centenário da independencia politica do paiz.
A constituição nacional do Brasil, cuja proclamação se verificou ha justamente cem annos, no dia 7 de setembro de 1822, as margens do Ypiranga, em São Paulo, é, até aqui indubitavelmente, o factor preponderante da nossa grandeza, mesmo mais do que a República, que é effeito do qual foi causa a Independencia do Brasil.”
O CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
Podemos dizer que nas comemorações do Centenário da Independência realizadas em 1922 demonstra como o passado pode ser mobilizado para legitimar projetos de nação, seja através de lembranças seja de esquecimentos dos acontecimentos da nossa própria história.
Ao realizar as comemorações do Centenário da Independência do Brasil, foram escolhias as ações a serem realizadas, Epitácio Pessoa, então presidente do Brasil com mandato entre 1919-1922, os políticos e os intelectuais da época puderam mobilizar narrativas que apresentavam não apenas o passado e o presente do Brasil, mas suas ideias de futuro.
Para celebrar os cem anos da independência do Brasil, o governo de Epitácio Pessoa organizou a Exposição do Centenário, realizada no Rio de Janeiro entre setembro de 1922 e julho de 1923. Um sucesso, a exposição atraiu mais de três milhões de visitantes e vários expositores estrangeiros.
O evento apresentou ao mundo um país que caminhava para a industrialização, com a ajuda de imigrantes europeus, que o teriam transformado num lugar mais ‘civilizado’, segundo a elite republicana.
Ao contrário de exposições anteriores, como a Exposição Nacional de 1908, onde figuras indígenas de tamanho natural apareciam em seu suposto ‘habitat selvagem’, a Exposição do Centenário apresentava um ‘tipo brasileiro’ branco e europeizado. Para os eugenistas que tinham voz da época, negros, mulatos, indígenas e caboclos eram obstáculos ao ‘progresso’ – visão registrada no Dicionário histórico, geográfico e etnográfico do Brasil, publicado pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro especialmente para a exposição.
As críticas mais contundentes a esta versão oficial da história do Brasil e à ‘reeuropeização’ do país vieram da esfera artística. Os modernistas criticavam a imitação de modelos estrangeiros na política, na economia e sobretudo na arte, na arquitetura e na literatura.
A Semana de Arte Moderna, realizada meses antes, de 11 a 18 de fevereiro de 1922, não poupou referências às culturas afro-brasileiras e indígenas e, embora tenha durado poucos dias, ocupa até hoje lugar de destaque na memória coletiva. Já a Exposição do Centenário, que durou onze meses, está praticamente esquecida.
Nas décadas anteriores as comemorações do Centenário os debates sobre a ideia de nação foram intensos. Discutia tanto ideia de nação quanto a imagem que o Brasil iria apresentar para a exterior nesta celebração.
A ideia de nação passaria pela visão do Brasil com sua imagem ligada a colonização do litoral, visto como cosmopolita e moderno, ou de seu interior, onde a tradição colonial poderia ser observada. Os debates ocorriam nos jornais e em outros meios, tendo uma participação ativa dos intelectuais, inclusive de historiadores.
No seio deste debate encontramos a proposta enviada ao Ministério Agricultura,
Indústria e Comércio por Ralph Corhan em ano de 1920. Ele sugeria a realização uma Exposição Internacional da Indústria e Comércio nas comemorações do Centenário para se demonstrar a grandeza do Brasil nestes setores. Esta seguiria os modelos das grandes Exposições Internacionais europeias. Tal evento não era o primeiro realizado no Brasil, uma vez que em 1908 durante as comemorações do I Centenário da Abertura dos Portos brasileiros ao comércio exterior fora realizada uma grande exposição no Rio de Janeiro.
A proposta de realização de uma Exposição Nacional, em seguida, foi levada ao congresso pelo Deputado Paulo de Frontin. Sugestão que foi votada e aceita naquela casa. Neste sentido, dois decretos são importantes para compreendermos como seriam organizadas as comemorações do centenário da Independência, uma vez que a Exposição nacional seria um dos eventos que ocorrem na cidade naquele momento.
Três decretos são importantes para conhecermos a montagem das comemorações. O de nº 4.175, de 11 de novembro de 1920, o nº 15.066 de 24 de outubro de 1921 e o de nº 15.596, de 02 de agosto de 1922.
O primeiro determinava que se devesse ser feita uma Exposição Nacional que duraria de sete de setembro de 1922 a trinta e um de março de 1923; o segundo apresentava o conjunto de atividades que comporiam as comemorações; e o terceiro previa a criação e a instalação do Museu Histórico Nacional no prédio do Arsenal, que estava sendo ocupado pelo palácio das Indústrias.
De acordo com Marly Motta, temos que:
“A Exposição Nacional se comporia de 25 seções representativas das principais atividades do país: a educação e ensino, instrumentos e processos gerais das letras, das ciências e das artes; material e processos gerais da mecânica; eletricidade engenharia civil e meios de transporte; agricultura; horticultura e arboricultura; florestas e colheitas; indústria alimentar; indústrias extrativas de origem mineral e metalurgia; decoração e mobiliária dos edifícios públicos e das habitações; fios, tecidos e vestuários; indústria química; indústrias diversas; economia social; higiene e assistência; ensino prático, instituições econômicas e trabalho manual da mulher; comércio; economia geral; estatísticas; forças de terra e esportes” (MOTTA: 1992, p. 67 e 68).
Em 7 de setembro de 1922 foi fundado o Museu Histórico Nacional.
Moedas comemorativas Centenário da Independência do Brasil:
Com informações:
- Arquivo Acervo Biblioteca Nacional.
- Acervo Digital Museu Nacional/Acervo histórico Moedas do Brasil.
- Arquivo digital da anpuh.org
- Junior, José Lúcio Nascimento. MEMÓRIA E ESQUECIMENTO: o Centenário de Independência do Brasil, 1922.