O Vasco atravessou o período mais vitorioso de sua história na década de 1990. Conquistou a Libertadores, dois títulos no Brasileirão, um marcante tricampeonato carioca. No entanto, a era dourada dos cruzmaltinos começa antes disso, ainda no final dos anos 1980. A insaciedade dos vascaínos tem o ponto de partida com um bicampeonato estadual e, especialmente, com o título no Campeonato Brasileiro de 1989. Contando com praticamente uma seleção em seu elenco, a aclamada “SeleVasco”, o clube da Colina desfrutou de um de seus maiores esquadrões e encerrou um hiato de 15 anos sem o título nacional.
Seria uma campanha com suas oscilações e seu entraves. O Vasco causou rebuliço no mercado, sobretudo ao tirar Bebeto do Flamengo, e protagonizou uma acirrada corrida com o Palmeiras rumo à decisão. No entanto, a equipe treinada por Nelsinho Rosa acabaria por se provar em campo. A sólida campanha como visitante pavimentou o caminho ao topo, algo ratificado até mesmo na decisão contra o São Paulo, com o troféu arrematado dentro do Morumbi. Foi a consagração de um time inesquecível, que daria suas contribuições à seleção brasileira rumo à Copa de 1990.
O sonho de reconquistar o Brasil
Bicampeão carioca em 1987 e 1988, o Vasco vivia no fim dos anos 80 a ansiedade por voltar a levantar o título nacional após mais de uma década. Depois da inesperada conquista de 1974 – quando a equipe dirigida por Mário Travaglini nem de longe era apontada como favorita, mas se mostraria sólida o bastante para superar times tecnicamente superiores – o clube da Colina havia batido na trave algumas vezes, mesmo contando com esquadrões mais poderosos.
Entre 1977 e 1979, foram três decepções seguidas: na primeira, mesmo com São Januário recebendo seu histórico recorde de público, o time caiu diante do surpreendente Londrina por 2 a 0 e ficou de fora das semifinais. Na segunda, o clube chegou entre os quatro finalistas, mas foi superado nos dois jogos das semifinais pelo futuro campeão Guarani. E na última, o time subiu um degrau e alcançou a decisão. Mas seria facilmente batido pelo Internacional.
Cinco anos depois, o Vasco chegaria a outra decisão de Brasileiro com um time superofensivo treinado por Edu Antunes Coimbra. Mas nos dois jogos finais, seu ataque passaria em branco diante do pragmático Fluminense de Carlos Alberto Parreira, que ficaria com a taça. A campanha discreta na Copa União de 1987, vinda entre o bi estadual, só reforçava a ideia de que o clube precisava com urgência mostrar sua grandeza além das fronteiras cariocas.
No segundo semestre de 1988, o clube parecia enfim se movimentar nesse sentido, mesmo após perder o artilheiro Romário (negociado com o PSV Eindhoven) e o técnico Sebastião Lazaroni (que saiu para uma curta passagem pelo futebol árabe), ambos logo após o fim do Carioca. Na primeira fase do Brasileiro daquele ano, marcada pelo regulamento que previa decisões nos pênaltis nas partidas que terminassem empatadas, o Vasco sobrou.
O time agora dirigido pelo ex-meia Zanata venceu seu grupo de 12 equipes em ambos os turnos – no primeiro, três pontos à frente do Grêmio, e no segundo, quatro à frente do Cruzeiro. Ao todo, foram 54 pontos ganhos, oito a mais que o Internacional, segundo colocado geral. Nas 23 partidas, venceu 13 no tempo normal e sete nos pênaltis, com só uma derrota na marca da cal e duas com bola rolando. Um aproveitamento que superava os 78%.
Forte em campo, o clube também firmou sua posição nos bastidores. Na virada do ano, quando o campeonato foi paralisado para voltar no fim de janeiro com a fase de mata-matas, o vice de futebol do clube, Eurico Miranda, assumiu também o cargo de diretor de futebol da CBF, indicado pelo recém-empossado presidente da entidade, Ricardo Teixeira. Com isso, o cartola vascaíno se tornava o homem forte nos torneios nacionais e também na Seleção Brasileira.
Apontado como o time a ser batido naquele Brasileiro, o Vasco viu, porém, seu sonho ruir nas quartas de final diante de um Fluminense que mantinha alguns algozes cruzmaltinos de 1984, como Romerito, Jandir e Washington. No primeiro jogo, os tricolores venceram por 1 a 0, deixando o Vasco na dependência da vitória por mais de um gol de diferença na partida de volta. No caso de triunfo cruzmaltino pela vantagem mínima, haveria prorrogação.
Foi o que aconteceu. O Fluminense abriu o placar na metade do primeiro tempo, mas o Vasco, com um jogador a menos, reagiu e chegou à virada no último minuto do tempo normal. Na prorrogação, esgotado, o time cruzmaltino assistiria aos tricolores balançarem as redes mais duas vezes, passando novamente à frente no placar e vencendo por 3 a 2, resultado que carimbou a passagem do time de Laranjeiras às semifinais da competição.
A ressaca de enormes proporções seguiu pelo primeiro semestre de 1989, com uma campanha pálida no Estadual, quando o time esteve longe de brigar pelo título da Taça Guanabara e acabou eliminado na Taça Rio – e no Carioca – após parar num empate em 2 a 2 dentro de São Januário com o pequeno Nova Cidade, que estreava naquele ano na elite e brigava contra o rebaixamento. O time ainda perdeu um pênalti, num fiasco que evidenciou o ambiente ruim no elenco.
Para piorar, a equipe também decepcionou em sua curta participação na edição inaugural da Copa do Brasil. Depois de sofrer para eliminar o Rio Negro empatando em 1 a 1 em Manaus (num jogo em que tomou o gol adversário com apenas 30 segundos de partida) e vencendo por um apertado 2 a 1 em casa, o time cairia logo nas oitavas de final diante do Vitória com uma derrota em São Januário por 2 a 1 no jogo de volta, após empate sem gols em Salvador.
A vassourada no elenco não poupou nem mesmo Roberto Dinamite, que após 18 anos quase ininterruptos no elenco profissional do clube, seguiu para a capital paulista, onde defenderia a Portuguesa por empréstimo. Grande referência de talento do time, o meia Geovani também deixou São Januário ao receber proposta milionária do Bologna, migrando para o galáctico Calcio. Mas o posto de maior ídolo não ficaria vago por muito tempo.
Fonte: Trivela