Com a pandemia em contínua expansão em várias regiões do mundo, a possibilidade de novas vagas a ganhar terreno na Europa e na Ásia, e a poucos meses de um inverno carregado de incertezas no hemisfério norte, a corrida ao desenvolvimento de uma vacina contra a SARS-CoV-2 é frenética – e parece dar passos promissores.
Neste preciso momento, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), das 163 candidatas a vacinas contra o coronavírus que estão atualmente em desenvolvimento no mundo, 23 encontram-se em fase de avaliação clínica, com testes já realizados em grupos restritos de voluntários, e duas delas já entraram, ou estão a entrar, na terceira e última fase do processo, com ensaios clínicos que envolvem milhares de pessoas. E outras deverão lá chegar dentro de pouco tempo.
Há, no entanto, muito caminho ainda para andar. O prazo estimado desde a primeira hora pela OMS, de 12 a 18 meses, para que uma vacina contra a covid-19 possa estar disponível no mercado, não sofreu nenhum recuo. E, a cumprir-se, este será de qualquer forma um recorde absoluto – e histórico. Até agora, a vacina criada mais rapidamente foi a da papeira, e levou quase cinco anos. A concretizar-se a estimativa da OMS de 12 a 18 meses para a vacina da covid-19, esse recorde será pulverizado e reduzido para menos de metade.
A fase 3 de desenvolvimento de uma vacina, em que é necessário demonstrar que a candidata é não apenas segura mas também eficaz na prevenção da doença, é uma das mais críticas. É neste derradeiro passo, justamente, que uma grande percentagem de candidatas fica pelo caminho.
Seja como for, o caminho andado em apenas seis meses desde que o novo coronavírus surgiu e o seu genoma foi sequenciado e publicado, é enorme e foi feito a uma velocidade inédita.
Nesta altura, as candidatas a futuras vacinas para a covid-19 mais bem posicionadas incluem uma criada pela parceria entre a Universidade de Oxford, no Reino Unido, e a biofarmacêutica AstraZeneca, que desde o final de maio já tem em curso a fase 3. Uma outra é a da empresa de biotecnologia chinesa Sinovac, que também já iniciou a fase 3 da sua candidata.
Também a americana Moderna anunciou esta terça-feira que a sua vacina experimental está pronta para entrar na terceira fase de testes, algo que deverá acontecer a 27 de junho.
A Pfizer alemã anunciou igualmente que se prepara para entrar nessa terceira etapa em breve.
Chegar aqui, à fase 3, significa que as respetivas candidatas a vacinas ultrapassaram todos os anteriores passos, que incluíram os estudos pré-clínicos in vitro e em modelos animais e também uma primeira avaliação clínica num número restrito de pessoas, em geral poucas dezenas, para demonstrar a segurança da sua utilização.
Para qualquer uma das candidatas na frente desta corrida, a terceira e última fase terá necessariamente a duração de alguns meses e milhares de pessoas terão de ser envolvidas.
Corrida contra o tempo
A vacina experimental da Universidade de Oxford e da AstraZeneca já está a ser testada no terreno, no Brasil, desde o final de junho, segundo a universidade britânica, que coordena o ensaio clínico e que espera envolver ali um total de cinco mil voluntários nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e zonas do nordeste do país, onde a pandemia tem progredido a grande velocidade, com pesado saldo de mortes.
Com a designação técnica de ChAdOx1 nCoV-19, esta vacina experimental utiliza um adenovírus que causa uma constipação comum, que foi enfraquecido e modificado para expressar a proteína S da SARS-CoV-2, de forma a causar a reação de defesa do sistema imunitário na presença do novo coronavírus.
Testes em laboratório e em modelos animais mostraram uma “resposta forte” por parte das células do sistema imunitário, diz a Universidade de Oxford.
Os resultados dos ensaios clínicos, que também estão a decorrer no Reino Unido, onde a equipa pretende envolver cerca de dez mil participantes, e também na África do Sul, serão o próximo momento da verdade para esta potencial futura vacina. Mas vai ser preciso esperar alguns meses até se saber qual é o veredicto. No final de julho, a equipa conta anunciar uma data previsível para a publicação dos primeiros resultados.
Quanto à vacina experimental criada pela chinesa Sinovac, que é feita a partir do coronavírus inativado, e foi designada como Coronavac, o ensaio clínico inicia-se também neste mês no Brasil, onde a empresa espera envolver 8870 participantes voluntários até ao final de outubro.
Na anterior fase de avaliação clínica do seu produto, a Sinovac diz ter testado cerca de 700 voluntários, e confirma uma resposta imunitária ao coronavírus, sem efeitos secundários a assinalar, de acordo com o diário digital El Español.
Entre as 23 candidatas a vacinas que já entraram nas primeiras fases de avaliação clínica, destacam-se ainda a da biofarmacêutica Moderna, dos Estados Unidos, que já anunciou que pretende avançar para a fase 3 ainda durante o mês de julho.
A sua vacina experimental baseia-se na utilização do mRNA, ou RNA mensageiro, que a ser bem-sucedida pode facilitar a produção das vacinas no futuro, segundo a própria empresa. Até hoje, no entanto, ainda não foi aprovada nenhuma vacina deste tipo.
Outra candidata a posicionar-se igualmente na dianteira é a da parceria entre a Pfizer alemã e a BioNTech, que nesta segunda-feira anunciaram ter recebido estatuto de fast track para duas das suas candidatas a vacinas contra a SARS-CoV-2 por parte da FDA (a reguladora dos medicamentos nos Estados Unidos), que se encontram nas fase 1 e 2 de avaliação clínica. Isso poderá acelerar também o início da terceira fase de testes.
São ao todo 23 as candidatas nesta vertiginosa caminhada que já estão em diferentes momentos de avaliação clínica, a maioria nas fases mais iniciais. Com a propagação do vírus sem dar mostras de abrandar, e com a perspetiva do inverno a poucos meses de distância, esta é uma corrida contra o tempo. No entanto, ainda vai ser preciso esperar mais alguns meses para conhecer o desfecho.
Fonte: Diário de Notícias.